segunda-feira, 5 de outubro de 2009

História da Érika, Mãe da Mimi.

Minha história com a Érika começou com as nossas filhas. Um dia ela viu a foto do perfil da minha segunda - a Pêta - e comentou que ela era a cara da menina dela.Daí pra frente seguiu uma amizade entre todas nós, que segue até hoje. Mesmo de longe, acompanhei a luta da Érika contra a doença. Chorei quando o prognóstico não era bom. Fiquei feliz de ver ela adotando mais duas e mantendo a lembrança da Mimi figurinha. Porque um grande Amor não acaba nunca.

Segue a história da Érika e da Mimi.

Oi Anabela,

Sou filha de pais separados, moro apenas com minha mãe desde os 4 anos de idade e como minha mãe como sempre trabalhou fora, e eu sempre fiquei sozinha, atendeu aos meus pedidos de me dar uma companhia. Uma amiga dela teve uma ninhada de gatinhos e a moça ia dar apenas um, "apenas o preto" pois os demais eram siameses. Eu fiquei radiante, fui buscar minha pequena pretinha no dia 25 de Setembro de 1991. Era ali que começava a minha nova familia feliz.

A batizei no caminho de volta. Mimi, Mimi Miney da Silva Mattes. Esse seria seu nome. Tinha um mês de nascida. Quase não tinha pelos pelo corpo. Pequena, cheia de pulgas. Pretinha. Olhos verdes. Chegou no nosso apartamento e foi amamentada com chuquinha, nós a amamentamos, ela foi crescendo junto comigo.

Era agarrada a mim, minha mãe trabalhava o dia todo, era vendedora, às vezes chegava tarde da noite e Mimi era minha única companhia. Fomos crescendo. Não tinha conhecimento algum sobre como cuidar de gatos, como tratá-los e minha mãe menos ainda. Quando o cio chegava, era a Anestron (uma vacina para femeas) que nós dávamos pois não queriamos os vizinhos reclamando da miação.

Mimi comia de tudo. Desde pequena, ganhava muitos mimos, danones, presuntos, carnes. Era uma gata humanizada. Usava o banheiro de casa como humano, até que um dia caiu dentro do vaso sanitário por estar molhado. Tivemos que usar a caixa de areia. Dormia na cama encostada no travesseiro. Comia o que queria e quando queria. Fazia o que queria e quando queria. Já ficou presa na geladeira, caiu em lata de tinta branca... ela era danada!

E assim os anos foram passando, um após o outro. Foi quando eu comecei a namorar e resolvi me casar, mudamos. Ela, claro foi junto comigo. Pois que mãe muda de casa e deixa seu filho?
Nenhuma.

Ela demorou um tempo pra aceitar meu marido, mas quando fomos morar todos juntos ela o aceitou e muito bem por sinal. Eles se amavam muito. Nós tres nos amavamos muito. Éramos uma familia feliz.

Com 12 anos, a Mimi começou a apresentar nas tetinhas uma água, e algumas bolinhas como se fossem sebinhos na barriga. Eu fazia uma "drenagem" e elas se acumulavam numa das tetinhas, a qual eu apertava e saia um líquido, uma água mesmo. Nada preocupante, era água mesmo, inchaço.

Mas um ano depois um nódulo maior surgiu, e ele não saia com a drenagem manual. Levamos ao vet e ele detectou que seria um tumor. Porém com a idade avançada dela, e como ela nao tinha nenhum outro problema - falta de mobilidade, falta de apetite, nada disso - ele achou mais prudente nao mexer nele.

Mas o tempo foi passando e ele aumentando. Ela tinha 15 anos, e eu resolvi que iria operá-la. Eu tinha acabado de entrar em uma empresa nova, fazia uma semana que estava no emprego. Marcamos a cirurgia e meu marido a levou. Anestesia inalátoria, pois o vet só fez a cirurgia depois que eu muito insisti, pois aquilo estava a incomodando muito: era uma bola, estava na barriga como um pêssego, dava para perceber que estava esticando a pele demais, se via as veias... e então foi retirado. Eu fui buscá-la no final da tarde. Ela me viu e abriu um sorriso. Levantou ainda sonolenta da anestesia e pediu colo.

Ela me pedia pra tira-la de lá, tirar as faixas que estavam em seu corpo, que queria tomar banho (ela sempre foi muito asseada, se alguem encostasse nela ela passaria pelo menos 30 minutos limpando a região que estava 'infectada'). Chegamos em casa, foi muita felicidade da parte dela, nem parecia que tinha quase 20 pontos na barriga, entrou, foi comer, depois ao banheiro, e foi deitar na cama no seu lugar, no meio da cama de casal onde ela normalmente dormia. Passou a noite bem.

No dia seguinte já subia na pia, e fazia tudo normalmente.

O Veterinário dela nao acreditava quando eu contava por telefone o estado dela... E ela melhorou, sem aquele incômodo "negócio" em sua barriguinha. Ela ficou tão linda como sempre, e carinhosa, e de novo meu bebezinho.

É impossivel descrever como é conviver com um gato como a Mimi por tantos anos. Ela participou de tudo da minha vida. Era um colo que eu tinha pra chorar, era minha mãe, minha irmã, minha confidente.

Quantos segredos ela não ouviu meus?
Quantos afagos ela me deu... Quantas lágrimas ela enxugou do meu rosto. Impossível de descrever.
Impossível de mensurar.
Ela era única.
Insubstituível. Totalmente.

Em Janeiro seguinte, o tumor reapareceu. Mais agressivo, cobrindo uma parte maior, chegando até o bracinho. Ligo para o vet dela desesperada e digo que ele PRECISA SALVAR A VIDA DA MINHA FILHA, que ela está bem, porém o tumor está crescendo. Marcamos novamente a cirurgia e ele é rispido em dizer a mim e ao meu marido, que ela pode não acordar da mesa de cirurgia.

Mas o que eu iria fazer? Deixar o câncer comer ela? NUNCA! Vai tirar e vai curá-la! Novamente uma cirurgia com anestesia inalatória por conta da idade, agora já tinha 16 anos. Mais de 30 pontos, a barriga toda mais o bracinho. Ela ficou toda costurada... e sem pelinhos... Quando nos viu para buscá-la seus olhos brilharam. Suspirou e disse: Mamãe, quero um presunto! Aquilo pra mim foi um milagre! Peguei meu bebe nos braços e levei pra casa chorando de felicidade.

Compramos tudo que ela gostava, doces, presuntos e tudo, tudo que ela queria, o proprio vet pediu que nós comprassemos as coisas que ela gostava, podia dar de tudo, embutidos, doces. Tudo. Porém a recuperação dessa cirurgia nao foi como a outra. A patinha dela ficou torta, como se tivesse pego um nervo, um tendão ou algo assim.

Briguei com o veterinário, com a esposa dele, mas ele disse que o tumor estava envolto nos nervos todos e na musculatura, e quando ele o retirou, deve ter cortado algum nervinho e que talvez voltasse ao estado natural. Mas não, não aconteceu. Porém ela vivia bem agora com sua deficiência, apenas arrastando a patinha da frente direita. O que nâo era para ela uma coisa tão ruim.

O dia das mães veio, ela me deu muitos presentes. E eu percebi que o tumor estava reaparecendo. O Vet que fez as duas primeiras cirurgias não quis mais mexer, disse que agora não adiantaria mais, que operaria e o tumor voltaria em pouco tempo.

Desesperei.

Procurei outro vet, que receitou alguns remédios, e uma Oncologista. Fui. Ela me deu uma esperança. Disse que faríamos um raio x, e caso não houvesse metastase, iniciaríamos uma quimioterapia, que talvez fosse a única solução, pois com cirurgia não estava surtindo efeito.
Fomos fazer o raio x.

O resultado foi desanimador. Os dois pulmões da minha pequena estavam metastasiados.
A vet que eu estava indo era minha prima, e a Oncologista era amiga dela, que quando viu, não sabia como me dar a noticia. Burra e ignorante como sou. Ainda tinha uma esperança.

- E ai doutora quando começaremos?
- Sinto muito, não poderá ter quimio.
..........................

Houve uma pausa de uns minutos assim, mas para mim foram quase 17 anos, passando ali na minha frente, todas as fases de nossa vida, tudo que já tinha acontecido com a gente, tudo que já foi feito, dito e passado. Quanto tudo aquilo estava sendo doloroso pra mim. Só eu sei.

- Quanto tempo ela tem doutora?
- 20 dias no máximo.

Gente, a pior coisa que se pode ouvir nessa vida, é isso. Que seu filho, só tem 20 dias de vida no máximo.

Seu filho, algo seu. Único.

- E nao tem nada que se possa fazer?
- Não, eu sinto muito.
- Mas doutora, ela come bem, ela anda bem, ela está bem, até brincar ela brinca!
- Isto é incrivel mesmo, mas pela experiencia que eu tenho, ela não passa de 20 dias, estou sendo sincera pra você. Portanto de à ela neste tempo, todo o amor e carinho que você puder. Dê qualidade de vida. Tudo que ela quiser. Digo de comida, de lugares que ela gosta de ficar. Dê de tudo.

E nós fomos embora. Eu chorei por dois dias inteiros, e minha filha limpando minhas lagrimas me "dando banho" a cada nova lágrima que escorria dos meus olhos. Era como se ela soubesse a falta que faria para mim quando ela partisse. Conforme os dias foram passando, ela foi deixando de comer, emagrecendo... definhando.

Em 17 dias, no dia 02 de Junho de 2008 eu cheguei em casa, como todos os outros dias, peguei ela no colo, beijei abracei perguntei como tinha sido o dia dela para meu marido, que havia ficado com ela o dia todo. Ele me disse que ela havia levantado (coisa que ela não fazia há alguns dias) e que havia deitado a umas 3 horas na caminha (ela não tinha mais forças pra subir na cama. Ficava no chão.) Peguei ela no colo. Tirei fotos.

Senti um cheiro de cocô. Perguntei se ela tinha ido ao banheiro, ele disse que não sabia. Fui olhar, talvez ela tivesse feito e tivesse grudado na patinha, ia pegar os lenços umedecidos para limpar. Foi quando ela segurou na minha mão. Colocou as garrinhas pra fora e abriu a boca. Ela apertou forte meu dedo. Tentei soltar mas ela não soltou. Abriu a boca, como se bocejasse, mas nâo era isso, senti umas gotinhas de xixi escorrendo e ela ficou mole. Gritei.

Chamei meu marido que veio correndo pegou ela nos braços, a cabecinha dela tombou... ela me olhava fixamente. Seu olho brilhava. Eu estava descontrolada, gritava, xingava, urrava, meu marido não me dava ela, apertava ela, chamava, mas ela não acordou. Eu a peguei, apertava o peito dela, chamava.... ela não acordava: Filha, é a mamãe! Acorda! É a mamãe!

Meu bebê tinha esperado eu chegar em casa para poder se despedir de mim. Ela se foi.

Ligamos pra vet, pra saber ela pediu para ele olhar na boquinha dela. Estava branco...Pediu pra ele fechar os olhinhos dela.

E ela se foi. Ela partiu. Foi a maior dor que já senti na minha vida. Perder um filho é pior coisa que se pode perder na vida.

Nós haviamos comprado um plano do Pet Memorial que vem buscar o corpo em casa e cremam. Eu moro em SP, em apartamento, não teria onde enterrar. Depois de três dias as cinzas voltaram pra mim, em uma urna com a réplica dela que esta na cabeceira da minha cama.

Minha filha se foi e até hoje não conseguiram me dizer qual a causa do câncer. Pode ter sido a não castração. Pode ter sido a alimentação. Mas as duas coisas teriam que constar nos exames. Como obesidade, colesterol e etc. Ela nâo tinha nada. Nunca teve. Dentição perfeita.
Pelagem perfeita. Olhos, narinas, tudo perfeito. Só era chamada de idosa, depois que eu falava a sua idade, ou algum bigode ou pelinho branco lhe denunciava.

Existem gatos de 4 anos, que morrem do nada... sendo castrados e comendo apenas ração.
Talvez a missão dela tenha sido cumprida. Talvez .... Não sei.

O que estava e o que não estava ao meu alcance eu fiz. Gastei horrores de dinheiro que eu não tinha em duas cirurgias caras, vets, oncologistas, remédios. Até morfina ela tomou. E ela partiu.

Isso já faz mais de um ano. E até hoje sinto sua presença em casa. Sinto sua falta em todos os momentos da minha vida. Queria que ela estivesse aqui agora.

E é isso. Amor de filhos, só quem tem ou teve, sabe como é. E o que eu deixo disso, é que amem, a cada dia, como se fosse o único. Expresse sempre seu amor. SEMPRE, SEMPRE SEMPRE. A cada dia.

Depois de um tempo, eu peguei duas bebês tigresas, com 37 dias, gêmeas, que estão preenchendo um pedacinho do meu coração. São duas filhas novas, que têm seu espaço,
mas a minha mais velha tem o seu grande espaço e ainda pulsa aqui, muito forte.

Um abraço, seu blog está lindo!

Erika Mattes

10 comentários:

Anônimo disse...

Nossa! Que história mais linda!
Essa moça realmente sente muita falta da gatinha né? Linda declaração!
Um bjo
Dely

Andrea Raffai- Mamãe da Mel, do Fred, do Jack,da Nina e da Bianca disse...

Érika, você tem toda a razão, só quem ama sabe.

Beijo

Unknown disse...

Nossa, chorei muito com essa história! É muito triste perder um filho mesmo... e só quem já passou por isso entende!

um abraço

marisa disse...

triste e emocionante...

não é fácil

passei por isto tbem...

sinto muito, mas vc foi uma mãe e tanto...

Badminton O gato disse...

cheguei ao fim do post aos prantos. tive uma canina que morreu atropelada as 5 anos. MUITO triste.

muito lindo tudo que fizeste por ela. espero fazer um pouco de tudo pelo meu gordinho. :)

desejo toda felicidade do mundo com as pequeninhas.
beeeeijos e ronrons :*

A. disse...

Gente, Érika é uma moça de sorte, teve a filha por muito tempo, amou e foi amada por ela.

A saudade existe porque algo foi bom.

Beijos a todos.

Anônimo disse...

Nossa, to chorando muito...

O meu amor pela minha gatinha é tao forte que me identifiquei com a historia da Érica... pq sei que a minha peludinha, daqui uns 15, 20 anos também ira partir.

Temos cerca de um ano de convivencia, mas meu amor por ela é tao grande já... ela já passou tanta coisa comigo... ja me viu chorar, ja me fez rir, já me viu mudar de casa, de país, viaja sempre comigo, e a unica coisa que pede é a minha mao, para apoiar a cabecinha durante a viagem, dentro da caixinha de transporte... mas sempre comigo,e sempre feliz por estar comigo! Ah e faz graça e pirraça p que eu vá ve-la comer... me dá beijinh, lambe os pelos do meu braço quando acha que estou suja...rs, lambe minhas lagrimas, me segue como uma sombra pela casa... me ve ir ao banheiro fazer xixi e em solidariedade faz tambem...rs
Gosta de comer um pedacinho do meu hamburguer, pede um pedacinho de couve quando estou comendo feijoada, gosta de tomar guaraná e suco de maça... agua de coco, doce de abóbora, peito de frango, costela de vaca...rs... enfim, tudo que eu gosto ela gosta tbm.
Eu so nao concordo que ela mate moscas, melgas e insetos para comer... mas ela nao me da bola!
é uma rebelde sem causa....rs

Dorme comigo sempre, com a cabecinha pousada na almofada, faz purr de alegria quando a cubro com o ededrom, e sempre fala Nháu aur, quando me ve chegando a casa.
Rabo em pé, se esfregando e piscando p mim, p que eu a pegue e de miminhos, festinhas pelo corpo...

Quero a minha menina por muittttttosssss anos, feliz, saudavel e mimalha.
Reaprendi agora, aos 31 anos, a brincar de pega pega, esconde esconde...
Voltei a ser criança com ela.

Um beijo a tods voces, gateiras, apaixonadas por essa coisa gostosa que eh amar sem esperar nada em troca, mas efetivamente receber!

Lady D...

Erika Mattes Bittencourt disse...

Obrigada a todas que postaram sobre o minha história, tem muito mais que isso, podia dar uns 17 mil posts pra Anabela sobre a minha vida com a Mi, mas resumidamente foi isso que aconteceu. É doloroso, mas ao mesmo tempo que conhecemos pessoas que passaram pelo que passamos, e nos enxergam como pessoas normais, isso conforta um pouco. Porque ouvi muitas vezes "porque nao ajuda uma criança carente" "ou porque nao faz caridade em vez de tratar um bicho"
Um "bicho" pra uns.
Minha filha, minha primogenita pra mim.
Arrumei muita briga com muita gente por causa da Mi.. e até hoje.
Com as gemeas estou seguindo a mesma linha. São minhas filhas também, e conhecem a história da Mi. Quem já amou sabe o que é perder. Me considero uma mulher de sorte por ter podido ficar com ela tanto tempo!
Bj a todas!

Paola disse...

Que linda e emocionante história de amor! Tenho certeza que sua Mimi está num lugar muito especial, te protegendo sempre, como um anjinho da guarda. Espero que minha pequena também tenha uma vida longa, repleta de saúde e amor. Grande beijo!

Anônimo disse...

Caramba...parabens Erica por amar tanto assim uma gatinha.
De sorte essa Mimi, mas pense no que fez de bom. Nao se entristeça! ela com certeza olha por voce!
As suas gatinhas novas também precisam de voce!
Beijos
Nana e Gatinhos