quinta-feira, 6 de maio de 2010

E Aconteceu Comigo...

Aqui no prédio dos meus pais tem o Ticão, um gatinho superfofo e já meio coroa. Apareceu, tem uns meses, uma gatinha meio tartaruguinha, que ninguém conseguia pegar, mega arisca. Nem amizade com o Ticão, que eu chamo de Pêto e vive no meu colo, ela fazia. Mas andava por aqui, o porto seguro dela.

Ela até me olhava, falava comigo de longe, e eu com ela. Ela teve os filhotes aqui no prédio, mas teve num lugar ruim, onde moram todos os cães do edificío e a cria morreu. Ela também tem sarninha, daí o empenho em pegarmos, etc. Mas sem sucesso. Garagem mega mal iluminada, gatinha mais preta que qualquer outra coisa, já viu. Como eu não moro aqui, quem ficava de olho - porque tinha vizinho que ficava reclamando da bichinha - eram mesmo essas vizinhas da cobertura embora eu tentasse ajudar na captura.

Ontem minha mãe me disse que ela estava dormindo em cima do carro e eu achei ótimo, sinto falta das marcas de patinhas quando estou na cidade. Hoje saí pra trabalhar, conferi o carro todo - tinha deixado janela aberta e já é o costume, inclusive de olhar em baixo por causa das crianças - e dei partida, só ligando sem sair pra fazer barulho, quando percebi que estava sem celular. Voltei pro apartamento pra pegar e quando vim pro carro não conferi a segunda vez, e é isso que está acabando comigo. Liguei o motor e quando saí com o carro escutei o crec. Um crec só. Achei que tinha batido o espelho.
Quando olhei pelo retrovisor, ela se retorcia e corcoveava no chão. Eu tinha atingido a fofinha. Eu berrei feito uma louca e larguei o carro como estava, saí correndo atrás de ajuda, porque não ia conseguir dirigir, sabia que ia ficar pior a emenda que o soneto. O prédio é pequeno e tem mais gente pra ajudar do que pra não. No primeiro andar, a vizinha que ajuda os gatinhos não estava. Subi pelas escadas até a cobertura, não conseguia falar, não lembra como falava, estava completamente afásica ou o que lembrava não era o português. Minhas vizinhas perceberam que o problema estava na garagem e era com algum felino. Uma desceu pra socorrer, a outra ficou com o que sobrou de mim ali em cima. Pensava nos meus filhos, pensava no lixo de pessoa que eu sou, pensava que eu sou relaxada, que tinha que ter olhado a segunda vez e morria de pensar que ela estava sentindo dor.

Chorei mais de uma hora. Tenho síndrome de Asperger e não organizava pensamento nem por um decreto. A vizinha que desceu foi ver a gatinha, colocou meu carro no lugar e disse que o porteiro tinha levado ela pro vet, que ela não ia morrer, pra eu ficar calma. Não conseguia ficar calma e só recuperei a fala mais de uma hora depois. Só agora consegui escrever. Pior que quando voltei da praia tinha me vindo uma imagem mental na cabeça, de mim falando com uma pessoa que eu tinha atropelado a fofinha na garagem. Mas a imagem simplesmente deletou da minha cabeça e só voltou quando a coisa toda já tinha acontecido. Me culpei ainda mais.


Estou me comendo porque não conferi o carro a segunda vez. As vizinhas - que são mães de duas caninas superamadas e sempre ajudaram essa gatinha - ficaram me falando que a vida dessa gatinha era ruim, que ela estava doente, mas pra mim não interessa. Fico pensando que tenho culpa, que matei, que machuquei, que sou uma merda de mãe e de ser humano.

O pior é que não estou conseguindo verbalizar quase nada e quero saber pra onde o porteiro levou, onde ela está. Liguei pros meus alunos e avisei,mas não lembro do que disse no primeiro telefonema. Só lembro do segundo, quando estava menos mal e conseguia efetivamente falar.
Mães, confiram sempre. Não confiem que eles se assustam com o barulho do motor, porque alguns simplesmente não se tocam. Não sejam como eu fui, olhem sempre, todos os dias, sempre ao sair. A dor que eu estou sentindo é uma coisa horrível, não quero pra ninguém. OLHEM SEMPRE!

6 comentários:

Unknown disse...

Amigata
Que coisa foi acontecer, justo com vc que zela tanto por estes bebês, mas não se culpe deste jeito não, era para acontecer, não temos como evitar.
Fica bem...

Grande beijo

Duma disse...

Eu também estaria uma pilha de nervos na sua situação, me encheria de ansiolíticos para segurar a barra. Por favor dê notícias da gatinha quando puder... =(

Felina disse...

poxa Anabela sinto tanto por tu estar passando por isso, mas infelizmente acidentes acontecem, mesmo qdo somos super cuidadosas, se preocupe agora em cuidar da pequena pra q ela fique logo boa, beijo!

A. disse...

Meninas, ela faleceu. Disse a minha vizinha à minha mãe que foi na hora, quando ela desceu pra socorrer a felina já tinha ido. Ela não quis me contar imediatamente pra eu não ficar pior do que já estava.

Muito, muito obrigada a todas vcs!

Mil beijos e sempre alertas! :-*

Lidi disse...

Meu Deus, coitada de você! Imagino sim a dor que está sentindo, e se vc for como eu, vai demorar muuuito pra passar!
Infelizmente esses acidentes acontecem, vc não tem culpa nenhuma. Espero que fique bem! Bjs

A. disse...

Oi Lidi.

Ainda não me sinto à vontade pra sair com o carro e eu, que já era neurótica com segurança, agora estou písica, como diz minha mãe.

Beijos e mto obrigada!