domingo, 3 de outubro de 2010

Depoimento do Dr. Grassi - a ele, nosso abraço! Tomara que tenha razão sobre a vida após a morte..

ADEUS A UMA GRANDE AMIGA.

 
Fifi Grassi
O ano era 1996. Reveion. Voltávamos da praia, onde tinhamos ido assistir a queima de fogos, coisa que hoje admito detestar. Estava com minha primeira esposa, Silmara, quando vejo um corpo estirado embaixo de um carro. Me aproximo e percebo uma gatinha preta e branca desmaiada. Estavamos recém formados na faculdade de veterinária e ainda com espírito samaritano. Examinamos e vimos que ela agonizava. Magra, muito magra, talvez tivesse desmaiado de fome. Recolhemos na intenção de ajudar, mas não tinhamos medicamentos e naquele horário não conhecíamos nenhuma clínica veterinária aberta. Por fim, entramos em um pronto socorro humano e convencemos uma enfermeira que provavelmente gostava de animais a nos conseguir alguns frascos de soro, seringas e vitaminas. Levamos a gatinha preta e branca para casa, coloquei o soro na veia dela e aplicamos os medicamentos que havíamos conseguido. No dia seguinte ela já levantava a cabeça e aceitava comida de uma foma desesperada. Parecia mesmo que não comia há dias e por isso desmaiou. Ficamos uma semana na praia, a gatinha se recuperou e voltamos com ela para São Paulo, onde ela foi morar na minha primeira clínica e ganhou o nome de Fifi.

Dai em diante muita coisa aconteceu na minha vida e a gata foi testemunha. Tive um filho. A minha primeira clínica fechou por falta de clientes. Descasei e a gatinha preta e branca ficou comigo na separação de bens. Abri uma empresa. Ganhei dinheiro e perdi dinheiro e a gatinha lá. Fiz amigos e perdi amigos. Casei novamente. Tive outro filho. Abri outra clínica e lá estava ela, recebendo os clientes na porta. E desta vez eram muitos clientes e assim passamos muitos e muitos anos juntos. De magrinha, após castrada, ficou forte e bonita. No tempo em que morou na clínica, sempre que eu estava tranquilo no consultório, ela vinha e se ajeitava no meu colo. No tempo em que morou em casa, dormia na cama, conosco.

*****

Agora o ano é 2010. Eu bem mais velho e ela também. Gislaine, minha esposa me liga chorando, dizendo que a Fifi não esta bem. Paciente de insuficiencia renal crônica, mal de quase todos os gatos velhos, vinha emagrecendo muito nos últimos meses. Estava fraca e com dificuldades de engolir. Mal passava de um quilo de peso.

Chego em casa e vejo a gatinha preta e branca desmaiada. Corro com ela para a clínica. Coloco um cateter na veia dela e ligo no soro. Peço a todos os funcionários que me deixem sozinhos com ela. Ela puxa o ar com a boca aberta. Eu já vi este filme muitas vezes e sei como acaba. Ficamos juntos ali cerca de um hora e neste tempo passou em minha mente novamente tudo o que aconteceu na minha vida nestes últimos dezesseis anos, desde que me formei e na mesma época encontrei-a debaixo do carro. Tudo mudou. As pessoas com quem convivo, os diversos locais onde morei e trabalhei, minhas dificuldades e conquistas, e de constante, a presença dela e de outros dois companheiros animais, o Xuxo e a Pituxa. Tudo mudou várias vezes e eles permaneceram. Constantes, companheiros, carinhosos, fieis e querendo apenas companhia e comida.

Volto a atenção para a gata magrinha, agonizando na minha frente. Oro a Deus agradecendo a companhia dela por todos estes anos. Preparo uma injeção, mas desta vez não é uma vitamina. Chorando me despeço da gatinha preta e branca que me acompanhou por tanto tempo e torço, para que se realmente existir vida após a morte, que nossos caminhos possam se juntar novamente um dia.

14 comentários:

Gata Lili disse...

Existe, sim, vida após a morte! Tenho certeza que a gatinha Fifi é muito agradecida ao Dr. Grassi e será seu anjo da guarda!

ReCriando disse...

Desculpe... sinto muito por sua dor... mas você não devia ter dado a injeção letal...

Unknown disse...

Que ela esteja animando o céu dos gatos agora...
A história é linda , mas triste , estou aqui com olhos marejados , mas com certeza nos encontraremos com nossos bbs , nisso eu aacredito.
lambeijos

Alice disse...

Que história linda! Tô chorando feito criança, lembrando dos meus pequenos companheiros que já não se encontram mais aqui. Espero sim, um dia poder rever todos eles.

Isabela - mãe do Horácio disse...

Nossa gente, que história mais linda! Impossível não se emocionar, principalmente quem já perdeu o companheiro mais querido para esta doença tão cruel.
Confesso que me vi refletida nesta história, no desejo de um reencontro, neste caso de amor que foi retratado com tanta sensibilidade!!!
E que bom seria se outros veterinários, como este, pudessem compartilhar deste amor genuíno aos animais e não apenas enxergar neles (muitas vezes de forma anti-ética)uma fonte de lucro.
Parabéns e que nossos reencontros sejam possíveis!!!

A. disse...

Meninas, todos os reencontros são possíveis.

Todo Amor é possível e possivel tudo é ao Amor.

Beijos a todas, um abraço especial no Dr. Grassi.

Amor & Miados disse...

Onde há amor, existe eternidade.
Acredite fielmente nisso e é o que me leva adiante diante de tantos casos tristes já presenciados com nossos filhos peludos.

Meu coração está com o senhor. Dr.Grassi, que Fifi descanse em paz e que em sua vida o senhor tenha a oportunidade de ajudar muitos outros animais a sentirem cuidados e amor.

Cândida Rosa disse...

Neste momento ela está no céu com todas as estrelinhas queridas que fazem da nossa vida um pouco mais alegre.
Existe vida após a morte sim, e vocês ainda irão se reencontrar.
Força nesta hora.

DANI disse...

Por todas as perdas da minha vida, incluindo meu grande amor(meu marido), vejo tudo como a Ana... O reencontro é diário, só não temos mais o toque... Um mundo colorido para o coração do dr. Grassi nesse momento.

Bjos

Andrea Raffai- Mamãe da Mel, do Fred, do Jack,da Nina e da Bianca disse...

Estas histórias sempre nos fazem chorar muito e reviver as nossas.
Não entendo o porque destes bebês, livres de pecado terem que sofrer, poderiam simplismente dormir e não acordar mais.
Meus sentimentos ao Dr. Grassi e pode ter certeza de que reencontraremos com elas novamente.

GatoBoris disse...

Como não se emocionar? Não foi diferente com meu eterno amigo GatoBoris.É uma dor que não sai de lá.E em todos o momentos me recordo.Também agradeci a Deus, pois foi único e jamais se repetirá. Mas graças a ele hoje cuido de 22 que estavam na rua.Quatro foram resgatados há duas semanas.
Que Deus abençoe a todos que têm compaixão para com os animais.

A. disse...

Amém!

Anônimo disse...

É a primeira vez que leio seu blog... só o encontrei agora.

Meu Deus, que depoimento comovente e real. Meus olhos encheram de lágrimas. Me lembrou de minha pequena Mel, que se foi com apenas 45 dias de vida, mas que preencheu muito a minha nos 15 dias que passou comigo... Imagina mais de 15 anos.

Também sou mãe de felinos, e sei como nos sentimos.

Anônimo disse...

Meus pêsames (atrasados) ao Dr. Grassi. Passei por algo semelhante há cerca de 13 anos quand perdi uma grande amiga e novamente em 2005 e 2007. A dor é enorme, mas a alegia que eles nos proporcionam apenas em existir não tem igual!