Pois é. A viagem me fazia tremer de medo. Já tenho pavor de aviao - a oficina é no chao e espaco aéreo nao tem acostamento - mas a ideia de acontecer alguma coisa com meus filhos me surtava. Eu achava que o povo do porao ia congelar, que ia sumir, fugir, que monstros sairiam do chao e os comeriam - surto é surto e delirar faz parte.
Bom, meus mais velhos foram na cabine com pose de quem tem cartaozinho Gold de milhagem e tudo. Nem um pio, domiram quase o tempo todo. Ás vezes me chamavam pra cocadinha regulamentar de orelha, mandavam a Fuzzy calar a boca, mas só. Nao ligaram pro que eu tava comendo e sinceramente, nem eu. Tudo transcorreu na maior tranquilidade. Joao fez pose para fotos no aeroporto do Galeao e no de chegada. Abalou coracoes nas filas de embarque, enlouqueceu multidoes no check in. Nino ali firme aguentando o assédio. E Susanna, que era pra ter ido na cabine, teve uma crise de pombagira ao ser colocada no transporte de cabine e deu um soco na cara dos irmaos. Porao pra maria barraqueira. Nao chegou lá a coisa mais limpa do mundo, mas estava tranquila.
Fuzzy Maria pintou o sete. No Galeao, dividiu os holofotes com Joao e andou no colo de meio mundo. Na aeronave, ficou com a madrinha lá na frente e dá-lhe maria macaneta, todo mundo metendo a mao. Me dá duas horas de voô e outra mae de felino - mas viajando sem os filhos - me chama.
-Olha, a sua pequenininha tá chorando a beca.
Estranhei porque ela estava com a madrinha. Estiquei a vista e vi que a dinda tava de fone de ouvido e jamais ouviria a minha filha. A MdF que estava no aviao se ofereceu pra pegar Fuzzy e eu aceitei no ato. Vai que ela passava mal? Ficamos entao nós 4 na última fila, com os assentos só pra gente. Fuzzy miou baixinho as quinze horas de viagem. Sério. Devia ir pro Guiness. Mas muito baixinho mesmo, ela só endoidava quando o aviao decolava ou descia. Aí era um manhanhanhaaauuugziusquemerdaehessa que chegava mesmo o povo a olhar. Mas como meio aviao ali queria fazer o mesmo, mas tinha vergonha, relevaram.
Foram 9horas e meia só para os fortes. Tomei banho de suco de maca, tive que segurar mao na hora de decolar, cocar duas ao mesmo tempo e de olho no fecho pra nao abrir o transporte, dar água, conversar, colocar no colo escondido pra ver se chorava menos, conferir se tinham feito alguma coisa. Enfim, nao preguei olho e cheguei pra minha conexao simplesmente transida de sono.
Eles? Cagando e andando. Nem querer sair do transporte na coleira na hora da troca de aviao quiseram. Dormindo estavam, dormindo ficaram e azar da mamae. Fuzzy continuava com o miumiumiueuqueroficarnocolo. Pau de dar em doido mesmo. Subimos no outro aviao. Novamente, problemas. Colocaram eles na business class. Fuzzy retomou o miauê, mas houve trégua. Claro que estranhei, fui ver se ela tinha morrido e religuei a vitrolinha, pra agonia de Wood e Peta Maria. Desmaiei na poltrona por uma hora e acordei quase no destino, passando mal de nervoso.
Quando descemos, fomos pegar as bagagens - a TAP aliás, tá na linha de mira nesse lance de bagagem - e as criancas que estavam no porao chegaram ótimas, numa boa. Pra mae da Bionda, que me perguntou do xixi, eu respondo: colocamos no piso do transporte fraldas dessas especiais que vende em pet shop, colamos mais algumas com fita cola no teto e deu tudo certo. Só Susanna que chegou meio sujinha, mas porque ela soltou a fralda do chao e se enrolou nela como se fosse um burrito.Aconselho caprichar na fita crepe nas pontas pra deixar bem fixa e ao mesmo tempo fácil de trocar pelo pessoal de terra. Ainda demoramos mais resolvendo problemas criados pela TAP, mas eles aguentaram bem. Nao, nao dei remédio nenhum, isso desregula temperatura corporal e deixa o peludo à mercê. Se você tá acordado, você se defende. Chegamos. Estávamos, finalmente, todos juntos.
E aí vem aquela frase famosa: gato se apega à casa, nao ao dono. É mesmo? Explica isso pros meus. Quando abri os transportes, cheiraram tudo, comeram a comida que a nova avó trouxe, acharam a caixa de areia (por ser mais moderna, o povo ainda fica olhando) beberam água e se aboletaram. Fizemos uma tela provisória, a mocada tá apaixonada pelo movimento,pela janelona, pelo parapeito, pela tela provisória, pelo cochilo com a gente, pelas novidades. Amanha vamos colocar a galera no jardim, de coleira e ver no que dá. Na nossa experiência, gato é o ser mais adaptável que existe. E mais educado também.
Oquei, esquece a Fuzzy Maria nessa. Ainda penso em escrever ao Guiness.